30 Abr 20 | Luís Mira - Secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal

Apenas a Comissão Europeia tem poder para intervir no mercado e manter os preços dos produtos agrícolas

Esta pandemia apanhou o Mundo de surpresa e ninguém conseguiu escapar. Alguns reclamaram a intervenção da Europa, mas esqueceram-se que os Estados-membros nunca quiseram prescindir da política de saúde pública e, muito menos, admitir uma coordenação a nível europeu. Já com a Agricultura decorre o oposto através da Politica Agrícola Comum.

A Covid-19 gerou também uma crise no sector agrícola devido à quebra no consumo e à diminuição das exportações. O excesso de produtos está a provocar quebra nos preços em toda a Europa. Porém, ao contrário da Saúde, a capacidade de intervenção no mercado dos produtos agrícolas é exclusiva da Comissão Europeia.  Não é por isso aceitável que o Comissário responsável venha dizer que não tem orçamento para desempenhar a sua função de regulador do mercado numa situação gravíssima e única na história da PAC, da União Europeia e do planeta.

Perante este cenário de falta de resposta da Comissão, e dentro das circunstâncias existentes, os produtores que puderam, recorreram às redes sociais e à entrega direta ao consumidor para resolverem o seu problema de escoamento. Soube-se assim da existência de dezenas de plataformas de comércio eletrónico, apoiadas pelas Câmaras Municipais e até uma plataforma agregadora da autoria do Ministério da Agricultura.

Mas, é importante frisar, que foi a solidariedade dos portugueses, o grande motor das vendas e dos resultados de algumas destas iniciativas. Recordo que o duro e implacável comércio de produtos exige, entre outros, empreendedorismo, capacidade de negócio e risco, requisitos ao alcance dos empresários, mas muito distantes dos poderes públicos.

Em Portugal, a Agricultura não é paixão nem bandeira de nenhum partido político. Esta realidade exige da CAP uma intervenção política que não será fácil, considerando que a oposição também desapareceu. Resta o caminho da capacidade técnica e da perseverança na construção de soluções positivas que garantam à Agricultura o melhor aproveitamento dos fundos comunitários que englobem as empresas, os pequenos agricultores, as cooperativas. Uns com uma responsabilidade de conquistarem mercados e outros com a tarefa da manutenção do território. Soluções que tenham sustentabilidade económica pois, sem ela, não é possível atingir a sustentabilidade ambiental que todos desejamos. Para isso precisamos da colaboração do Primeiro-ministro, e da compreensão do Ministério do Ambiente, do Ministério da Coesão Territorial e, obviamente, do Ministério da Agricultura. É tempo de construir pontes e não de gerar ciclones.