27 Mai 20 | Francisco Figueiredo - Jornalista/Consultor de Comunicação

CARTAS de CABO VERDE – AQUI, UM LUGAR ( Parte I )  

CARTAS de CABO VERDE

AQUI, UM LUGAR ( Parte I )

 

O que ( não ) sabemos.

Acabo de ter uma pequena discussão ao telefone com minha mulher. Pelo Daniel, seu filho. Ele anda saltando de casa em casa. Da do pai, para a nossa, da nossa para a da tia.

Que diacho, vivemos em pandemia.

Estamos em 2020.  No inicio, parecia um ano bom. Também me senti

tentado a acreditar.

Sei, sou sempre muito encorajado pelo próprio.

Desta vez, a regra manteve-se.  Afinal, o novo ano chinês, trazia um rato na

lapela. Agradou-me a ideia de ser o meu signo naquele horóscopo oriental.

Neste momento, já não estou nem aí para o rato, apanhado na ratoeira que construiu, muito menos para a China.

Afinal, é de lá que veio o mal.

Deveria estar em casa, como fiz nos últimos dois dias, mas não.

Como se fosse o trabalho a coisa mais importante nas nossas vidas.

Atravesso a rua, e ao dobrar da esquina, estou sentado no escritório.

E escrevo. Para mim, e para os outros.

Escrevi muitos enes nas últimas frases, parágrafos.

Minutos e horas…  o que me leva a olhar com desconfiança para a tecla “n”.

De não. Não estamos de facto a perceber a história toda. A começar pela

evidência de não estarmos preparados. Nem as teclas desinfectadas.

Não estamos preparados?! Como assim, não estamos preparados?!

Se há muito avisados? E também para a “s”. E para… todas.

Há toda uma suspeição no ar. E em tudo que nos rodeia, e tocamos.

Um clima de paranóia. Que me assalta quando percebo que vivo aqui.

Aqui, é um lugar. Meio estranho.