Opinião
CARTAS de CABO VERDE – AQUI, UM LUGAR ( Parte I )
CARTAS de CABO VERDE
AQUI, UM LUGAR ( Parte I )
O que ( não ) sabemos.
Acabo de ter uma pequena discussão ao telefone com minha mulher. Pelo Daniel, seu filho. Ele anda saltando de casa em casa. Da do pai, para a nossa, da nossa para a da tia.
Que diacho, vivemos em pandemia.
Estamos em 2020. No inicio, parecia um ano bom. Também me senti
tentado a acreditar.
Sei, sou sempre muito encorajado pelo próprio.
Desta vez, a regra manteve-se. Afinal, o novo ano chinês, trazia um rato na
lapela. Agradou-me a ideia de ser o meu signo naquele horóscopo oriental.
Neste momento, já não estou nem aí para o rato, apanhado na ratoeira que construiu, muito menos para a China.
Afinal, é de lá que veio o mal.
Deveria estar em casa, como fiz nos últimos dois dias, mas não.
Como se fosse o trabalho a coisa mais importante nas nossas vidas.
Atravesso a rua, e ao dobrar da esquina, estou sentado no escritório.
E escrevo. Para mim, e para os outros.
Escrevi muitos enes nas últimas frases, parágrafos.
Minutos e horas… o que me leva a olhar com desconfiança para a tecla “n”.
De não. Não estamos de facto a perceber a história toda. A começar pela
evidência de não estarmos preparados. Nem as teclas desinfectadas.
Não estamos preparados?! Como assim, não estamos preparados?!
Se há muito avisados? E também para a “s”. E para… todas.
Há toda uma suspeição no ar. E em tudo que nos rodeia, e tocamos.
Um clima de paranóia. Que me assalta quando percebo que vivo aqui.
Aqui, é um lugar. Meio estranho.