19 Mai 20 | André Paraíso Vicente - Business Leader Aon Portugal

Comunicar, um novo paradigma

Por mais complexos e desafiantes que se apresentem os riscos, o mundo dos seguros, à semelhança de uma miríade de actividades humanas, tem a tónica num elemento estruturante, as pessoas. Assenta na confiança, no respeito, na relação que se vai construindo entre pares e parceiros. Neste “novo normal” em que os meios electrónicos substituíram as reuniões presenciais, onde os apertos de mão deram lugar a cumprimentos virtuais, como nos posicionamos?

A primeira vez que entrei no icónico edifício do Lloyd’s na City londrina esperava sofisticação, tecnologia, formalismo. Surpreendi-me como o negócio se produz da mesma maneira como em qualquer momento dos 330 anos de história do mais reputado mercado segurador do mundo.

Enquanto brokers percorremos os guichés dos vários seguradores e sindicatos, sentando-nos literalmente num pequeno banco para uma conversa com os subscritores enquanto buscamos soluções para os nossos clientes. A conversa flui ao ritmo do quão bem conhecemos a pessoa que está a nossa frente. Está nos pequenos detalhes, na linguagem gestual e corporal. Boa parte das vezes o negócio não se concretiza aí ou num qualquer email posterior, mas num almoço ou num café no sem número de estabelecimentos que rodeiam Lime Street.

O mesmo princípio está na génese da relação com clientes. É uma interacção entre pessoas. Somos aqueles a quem nos ligam quando um novo desafio se aproxima ou urge resolver um problema. Temos que ser mais do que um mero prestador ou consultor, mas sim em quem os clientes depositam a sua confiança, seja na protecção do negócio ou na salvaguarda do seu património pessoal e patrimonial.

A reunião presencial era o veículo mais indicado para esbater desconfianças, quebrar barreiras, isto já para não falarmos dos “almoços de trabalho”, essa verdadeira instituição!

Tendo abraçado um novo projecto profissional em Janeiro deste ano, cedo me vi confrontado com esta realidade. A equipa gere-se remotamente, as reuniões com clientes são por webex, teams, zoom.

É porventura o maior desafio desta “nova” normalidade, o comunicar à distância mantendo a mesma eficácia, sobretudo quando perante novos interlocutores.

Há que manter o foco, a dinâmica, o entusiasmo, não só o nosso, mas de todos aqueles que trabalham connosco.

Contamos hoje em dia com múltiplas ferramentas que nos permitem estar em contacto com qualquer pessoa, em qualquer geografia, a qualquer hora. É mais impessoal, verdade, mas é também uma forma de comunicar mais rápida e instantânea. Ganha-se igualmente na vertente tempo. O trânsito das grandes cidades deixa de ser um pernicioso obstáculo, as viagens reduzem-se ao essencial. As próprias conversas são mais direccionadas, perdendo-se parte do cerimonial.

Passada a epidemia, e aos poucos, regressarão outros hábitos e rotinas, mas, creio, já não com a mesma cadência. Será uma diferente realidade, fruto da optimização de novas práticas com aquelas que tínhamos por certas. Nasce um novo paradigma.