27 Out 20 | Carmen Rodrigues de Almeida - marketeer e autora do blog Breakfast@Tiffanys

O poder de influenciar

O poder dos influencers é um tema que levanta cada vez mais questões e tendo criado o Breakfast@Tiffany’s há mais de 10 anos, na altura como mero hobby e sem quaisquer objectivos financeiros, sinto-me totalmente habilitada para falar sobre este assunto sem reservas. Por outro lado, sou Marketeer de profissão, tendo trabalhado vários anos com marcas de luxo, o que me dá obviamente know-how sobre o tema.

O Breakfast@Tiffany’s sempre foi um espaço de partilha de opinião sobre as coisas que gosto, os locais que visito e a minha forma de estar, independentemente de aquilo que divulgo ser patrocinado ou pago por mim. Como digo sempre “não existem almoços grátis”. Uma parceria, quer envolva um valor monetário ou apenas uma troca de serviços/produtos, implica muito trabalho. Por trás de uma bonita foto está todo um conceito. É necessário desde logo criar uma história, pensar num cenário e envolvimento. Depois passar horas a fotografar, selecionar e editar imagens, bem como escrever um texto que transmita a mensagem que queremos veicular.

No entanto, o verdadeiro motivo que me moveu a redigir este artigo foi a crescente questão sobre o poder de influenciar, palavra que não adoro, pois acho que todo o cidadão comum tem de alguma forma esse papel de influenciador, não cabendo o mesmo apenas aos criadores de conteúdos. Quantas vezes não vamos àquele hotel ou restaurante porque nos sentimos inspirados por uma pessoa com quem simplesmente nos identificamos? Por outro lado, e quanto à questão dos patrocínios, também é importante referir que cada um tem a possibilidade de seleccionar as marcas com quem trabalha. Posso dizer que nunca aceitei uma proposta para fazer algo com o qual não me identifico.

De igual forma, vejo que da parte de algumas agências de Marketing de influência existe um total desalinho, não percebendo que o influencer que faz uma campanha de mass Marketing não será obviamente o mesmo que vende produtos de luxo. Não é apenas uma questão de identificar o target mas também o veículo certo.

Ter milhares de seguidores, não significa per si que represente uma boa taxa de conversão, se o que se está a vender não se enquadra no mesmo segmento. Há ainda que ter em conta o engagement, quantas vezes não vemos contas com inúmeros seguidores e likes e quase sem comentários.

Há agências que não querem saber sequer se testamos os produtos, nem qual a nossa verdadeira opinião sobre os mesmos. Prova disso é que com algumas campanhas que fiz na área de beleza recebi na véspera os artigos que eram para fotografar e publicar de seguida, ou seja, sem tempo para os experimentar e dar uma opinião fundamentada. A questão que mais me chocou foi de um Director de uma agência de Marketing de influência me ter dito para divulgar um produto ao qual tinha muitas reservas, por me ter feito alergia anteriormente. A pronta resposta foi “aceita a campanha, não precisas de usar, só falar sobre o mesmo!” Declinei obviamente e até hoje não voltei a trabalhar com a agência.

Nesta questão é também importante mencionar o consumidor final, quem nos segue acredita na nossa palavra. Não estamos a falar de seres acéfalos, mas pessoas cada vez mais informadas, que confiam em nós e que percebem que não acordamos um dia todos a decidir que vamos usar aquele shampoo ou creme anti-rugas. Aqui também há um importante trabalho por parte das agências e marcas em calendarizar as publicações e, como já referi, escolher o profissional/plataforma ideal para aquele produto em específico.

Em paralelo, tenho marcas com as quais tenho relações de longa data e cujos brand values estão totalmente alinhados com os meus, sendo junto a essas que quero estar. Em Portugal parece que só os números contam, não se privilegiando o bom conteúdo, nem se adaptando cada campanha aos alvos a alcançar. Os blogs de nicho, por exemplo, são muitas vezes desvalorizados, diversamente do que acontece em outros mercados, onde são uma referência.

Posto isto, vou continuar por aqui a comunicar para a minha audiência, pessoas que me seguem desde sempre ou que chegaram agora. Continuarei a dar o meu melhor e a abraçar apenas projectos nos quais acredito. Posso nunca vir a enriquecer mas também jamais perderei a minha essência, afinal essa é para mim a maior riqueza de todas!