Opinião

Primeiro prevenir, depois agir
É uma pena que tenhamos de falar em integridade no desporto.
A prática desportiva, para além de pressupor atividade física de forma metódica, recreação, melhoria da saúde, competição, melhoria das aptidões físicas e mentais, exige o cumprimento de um conjunto de regras e costumes.
Ora, se cumprirmos as regras, sejam elas físicas, morais ou éticas, não teremos necessidade de falar de integridade, ou da falta dela.
A subversão do que está estipulado, a tentativa, e muitas vezes, efetivação de manipulação leva-nos, de há uns anos para cá, a tentarmos combater fenómenos como a viciação de resultados, o doping, a corrupção, a crescente onda de notícias falsas e exageros que promovem fenómenos de violência no desporto.
E são fenómenos à escala global que se refletem também entre nós.
Já muito se discutiu e propôs para tentar travar a manipulação de resultados, a corrupção e o doping.
A própria legislação europeia é muito mais “dura” em relação à punição para quem utiliza estes subterfúgios graves para alterar a verdade desportiva.
E a justiça desportiva internacional também já desenvolve mecanismos mais firmes no sentido de punir quem não cumpre.
Também em Portugal já muito se tem feito para travar este combate. O governo português está atento ao fenómeno e tem desenvolvido esforços para ajudar a combater as situações desviantes que vão surgindo.
Mesmo que se pense que nada está a ser feito, o que é certo é que vamos dando alguns passos, algumas vezes de forma isolada, para combater este polvo que, também ele, vai crescendo à escala global.
As iniciativas desenvolvidas carecem de maior destaque mediático.
É necessário envolver de forma mais eficaz os agentes desportivos (sejam eles federações, associações, clubes, dirigentes, treinadores, atletas, árbitros…), envolver de forma mais eficaz os responsáveis políticos (e não só o governo), envolver de forma mais eficaz os legisladores e os reguladores. É necessário fiscalizar mais.
Mas também, envolver de forma mais eficaz a sociedade civil.
Por norma, estamos habituados a reagir a situações, muito mais rapidamente do que em nos focarmos em ações proativas.
O problema existe e temos que o controlar, mas podemos e devemos pensar em chegar àqueles que, no futuro, se poderão confrontar com tentativas de suborno para manipular a verdade desportiva. E esses são as crianças.
Porque não propormos nas escolas de 1º e 2º ciclos a organização de encontros para pais, encarregados de educação e professores de educação física que sensibilizem todos para estes temas?
Porque não propormos que as escolas, públicas e privadas, se organizem para que os seus alunos sejam parte ativa na promoção dos valores do desporto e na luta contra o doping, a manipulação de resultados e a corrupção?
Porque não incutir nos responsáveis federativos e associativos a “obrigação” de desenvolver junto dos seus associados ações de sensibilização para estes assuntos?
Cabe a cada um de nós envolvermo-nos nesta causa.
Cabe a cada um de nós sensibilizar quem está ao nosso lado, divulgar as boas práticas desportivas.
E cabe a cada um de nós participar, sempre que formos convocados para tal, em iniciativas que ajudem a encontrar novas e mais eficazes soluções para combater esta guerra que é muito mais que desportiva.
Há interesses económicos fortíssimos por detrás da viciação de resultados.
Sabemos que a luta é desigual.
Mas sabemos também que, se nada fizermos, não nos poderemos queixar no futuro de que o fenómeno desportivo, a prática desportiva, o espetáculo desportivo são “des-virtudes” que nos entram pelos olhos dentro e que já é tarde demais para reverter.
Sejamos proativos e não reativos!