21 Mai 20 | Leonor Carmo - Professora

Serenidade

 

É preciso “serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar aquelas que posso e sabedoria para distinguir umas das outras”

A origem desta oração da serenidade não tem consenso quanto ao autor, nem quanto à data, no entanto sinto-a também como minha, pela vontade de fechar os olhos e sentir o tempo, essa linha imóvel, sem traços concordantes. O tempo que busca a verdade pura, queimada pela saudade, aquela que se perde pelos cantos da insanidade, que se torna inerte e perversa, e às vezes tão intensa.

Amargura? Seria uma ousadia do tempo beliscar o esboço do meu futuro. Tecer-lhe uma teia que o envolvesse e tornasse num projeto rude e inacabado, um rabisco do meu fado malfadado pela falta de coragem ou erudição.

Mas o tempo tem destas coisas, e da incerteza que me provoca, tenta penetrar nesta minha terra em tom irado, com as pás duras e rudes do seu arado, repetindo inadvertidamente o movimento lento, o seu ritmo cadenciado, sem medo e sem vergonha.

E eu, e nós?… lá vamos passando nessa tela cinzenta, que é tão longa quanto a própria vida!

Confesso que por vezes sinto que tenho um caso de amor / raiva com este tempo que não posso mudar, sinto-o marcar o meu caminho a passo e contratempo… e é bom deixar-me levar, pelo seu ver, pelo seu cheiro mas que no fim acaba por me enganar, dizendo que se dá apenas a mim de corpo inteiro.

E se com este tempo escrevo a cinzento, e o aceito como tal, quero viver também a intensidade de um percurso colorido, escrito com parágrafos cheios de glória e que aos poucos vou acrescentando sem medo e sem culpas à minha história.

Tempo, eu quero viver contigo sem pecados e sem remorsos, posso até desejar o que não posso, mas não me vou perder, nem assustar com alguns pesares e saudades, pois retirei com paz do meu fado, só os factos e verdades.

E o destino, se existir, vai gravar com palavras e imagens, daquelas que duram até à eternidade, que depois de tantos anos, finalmente, encontrei o sinónimo de sabedoria: serenidade!