11 Mai 20 | Pedro Martins - Jornalista/Correspondente da RTP em Moçambique

UMA MUDANÇA DE VIDA… IMPREVISTA

Foi a 20 de Abril de 2017 que pisei pela primeira vez solo moçambicano. Nesse dia, chegava a Maputo para abraçar uma nova (e gigante) experiência profissional… a de desempenhar as funções de Delegado da RTP em Moçambique, numa das cinco delegações que a Empresa tem nos países de língua oficial portuguesa, em África.

Mas ao contrário do que acontece com tantos portugueses, eu nunca tive (e acho que continuo a não ter) o desejo de um dia emigrar. Só que há alturas na nossa vida em que, por vezes, temos mesmo de dar um passo atrás (se é que foi mesmo esse o caso) para, depois, dar dois à frente.

Quando em 1996, cheguei à Redação de Desporto da Televisão Pública Portuguesa, já lá vão mais de vinte anos, conheci, trabalhei e aprendi muito com aqueles que já eram as minhas referências na área, nomeadamente Rui Tovar, Cecília Carmo, Paulo Catarro, Miguel Prates, Jorge Lopes e Miguel Barroso.

Com o passar dos anos, por umas razões ou por outras, todos esses nomes foram desaparecendo do Desporto da RTP, desde sempre uma marca de prestígio em Portugal. Mesmo assim, tive o privilégio de marcar presença em grandes eventos desportivos, como mundiais e europeus de Futebol, Hóquei em Patins, Futebol de Praia ou Futsal e, também, em várias edições da Volta a Portugal em Bicicleta.

Não só devido à perda dos direitos de transmissão televisiva de várias modalidades, mas também por outras razões do dia-a-dia de uma redação e do foro interno da empresa, comecei a ponderar a hipótese de abraçar um novo projeto profissional.

Quando em 2016 me candidatei para os lugares de delegado em Cabo Verde e Moçambique, confesso que não foi na perspetiva de vir a ser um dos selecionados, mas mais uma forma de mostrar, a quem de direito, que estava desmotivado na redação de Desporto e pretendia abraçar novos desafios.

A verdade é que, depois de um concurso interno com várias fases o júri, composto por Paulo Dentinho (Diretor de Informação da Televisão), João Paulo Baltazar (Diretor de Informação da Rádio) e Maria Helena Pereira (Diretora de Recursos Humanos), acabou por considerar que eu tinha o perfil indicado para ser o novo Delegado da RTP, em Moçambique.

Só no dia em que recebi a notícia, dada ao telefone pelo Presidente do Conselho de Administração, é que percebi realmente a responsabilidade que tinha em mãos. Principalmente no momento em que o Dr. Gonçalo Reis me diz que a seguir à Embaixadora eu iria ser, provavelmente, o segundo português “mais importante” em Moçambique, já que o cargo de Delegado obedece também a um lado político – iria ter de representar a Empresa em reuniões, audiências ou até recepções oficiais, num país com fortes ligações a Portugal.

Quando cheguei a Maputo e fui apresentado pelo meu antecessor (Ricardo Mota) às duas dezenas de funcionários e colaboradores da delegação, confesso que senti as pernas a tremer. É que, e apesar de até ter tirado uma licenciatura em Gestão de Empresas, nunca tinha tido a oportunidade, até àquele momento, de desempenhar quaisquer funções de chefia.

A verdade é que, e graças à colaboração de todos os elementos da Delegação, considero que até ao presente momento tenho conseguido levar “a água ao moinho”, gerindo uma mini empresa onde acabo por desempenhar em simultâneo, as funções de Presidente, Diretor (de várias áreas), Coordenador, Chefe de Redação e ainda a de Jornalista, aquilo que sempre fiz e que não quis deixar de fazer em Moçambique.

Nem sempre tem sido fácil a gestão do tempo e dos meios, já que “tenho” quatro Jornalistas e quatro Repórteres de Imagem a trabalhar para as duas edições diárias do Repórter África da RTP África; além do referido, dois programas semanais são produzidos totalmente na delegação (o África Sport e o Músicas de África) e, ainda, um outro de entrevista em Estúdio, uma vez por mês (o Fórum África).

Estes três anos passaram “a voar”, tal a quantidade de acontecimentos que tive de acompanhar em Moçambique. Dois ciclones que provocaram imensas mortes e estragos avultados, ataques terroristas em Cabo Delgado, umas eleições gerais muito polémicas, a assinatura de um acordo definitivo de paz no país, as visitas do Papa Francisco, de Marcelo Rebelo de Sousa, de António Costa e até do Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres. Acontecimentos que, não tendo as menores dúvidas, ajudaram-me a crescer, e muito, em termos profissionais.

O menos positivo desta enorme Aventura na Pérola do Índico tem sido, sem margem para dúvidas, o facto de estar a viver esta experiência sozinho. Mesmo com recurso diário às vídeo chamadas, as saudades dos meus filhos, pais, namorada e restante família não param de aumentar. Daí que o regresso definitivo a Portugal nunca possa estar muito longe no horizonte…