Opinião

A comunicação de hoje
Vivemos numa era em que a comunicação nunca foi tão fácil — e, ao mesmo tempo, tão difícil. Em segundos, conseguimos partilhar uma ideia, uma imagem ou uma opinião com centenas, milhares ou até milhões de pessoas. A tecnologia transformou-nos em emissores permanentes. Mas essa abundância de mensagens levanta uma questão: estamos realmente a comunicar ou apenas a falar mais alto uns que os outros?
A comunicação atual é marcada pela rapidez. Vivemos no imediato: a notificação que vibra no telemóvel, a publicação que dura segundos num feed, a reação instantânea que substitui a reflexão. Este ritmo cria proximidade, mas também fragilidade. As palavras perdem densidade quando são consumidas e esquecidas em instantes.
Outro fenómeno é a fragmentação. Cada um de nós habita bolhas digitais, onde recebemos sobretudo aquilo que confirma o que já pensamos. Em vez de diálogo, muitas vezes encontramos eco. Em vez de confronto de ideias, vemos polarização. A comunicação, que deveria aproximar, corre o risco de nos isolar em mundos paralelos.
Mas nem tudo é negativo. A comunicação deixou de ser exclusiva dos grandes meios e tornou-se mais participativa. O desafio é aprender a filtrar, a ouvir com espírito crítico e a devolver à palavra o peso que ela merece.
Acredito que a comunicação atual é um espelho da nossa sociedade: veloz, plural, mas muitas vezes dispersa. O que precisamos não é de menos comunicação, mas de comunicação melhor. De conversas que não se esgotem em likes, mas que construam pontes. De mensagens que não sejam apenas reações, mas reflexões.
No fim, comunicar não é só falar. É ouvir, compreender e dar sentido ao que partilhamos. Essa é, talvez, a grande tarefa do nosso tempo: resgatar a profundidade no meio de tanta abundância.