8 Set 25 | Cecília Carmo

Porque é que a tragédia nos atrai?

Há um paradoxo na natureza humana: ao mesmo tempo em que procuramos a felicidade, paz e conforto, somos atraídos pela tragédia — seja nos noticiários, em filmes, na literatura ou até mesmo em histórias pessoais de quem nos rodeia. Basta observar as manchetes de jornais sobre desastres, crimes ou perdas.  Chamam mais a atenção do que notícias positivas. Mas o que explica essa espécie de fascínio?

A tragédia desperta emoções intensas e imediatas. Ela coloca-nos em contato com o inesperado, o assustador e o desconhecido. O medo, a compaixão e até a indignação ativam em nós um alerta primitivo, um instinto de sobrevivência. Ao observar o sofrimento do outro, lembramo-nos — de forma quase inconsciente — da fragilidade da vida e da nossa própria vulnerabilidade.

Por outro lado, a tragédia cria narrativas poderosas que unem comunidades. Quando acontece uma catástrofe ou uma perda coletiva, as pessoas mobilizam-se e encontram propósitos comuns.

Mas esta atração pela tragédia também revela um lado problemático.

A busca incessante por tragédias, especialmente nos meios de comunicação, pode banalizar o sofrimento humano. Quando a dor do outro passa a ser espetáculo, há o risco de perdermos a sensibilidade, reduzindo vidas a estatísticas.

Assim, a pergunta mais importante talvez seja: o que fazemos com essa atração? Se ela nos serve apenas para o sensacionalismo, corremos o risco de esvaziar a sua importância. Mas se, ao contrário, a tragédia desperta em nós empatia, reflexão e compromisso com um mundo menos doloroso, então essa curiosidade pelo trágico pode ser transformada em força de transformação.

Porque, no final, a tragédia lembra-nos de que somos humanos: frágeis, curiosos e, sobretudo, profundamente ligados uns aos outros.